Dizem que escrever é uma forma de Auto amor.

Mas eu acho que escrever nada mais é do que emprestar a própria atenção a si mesma.

É o olhar para dentro, e ver o que temos de mais íntimo e criativo dentro de nós.

Já ouvi por aí dizer que “escrever poupa-nos idas ao psiquiatra”.

Assim sendo…

Pouparei decerto idas ao psiquiatra. E espero com isso levar alegria e amor a todos vocês.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Depois de muitos anos ela ganhou coragem e voltou à aquela praia!
O mar tem o mesmo tom azul turquesa de antigamente...
O balançar das ondas está hoje mais suave como se adivinhasse a sua tristeza e não a quisesse incomodar...
As folhas das palmeiras, dançam ao ritmo da brisa...
As gaivotas voam em circulos e gritam...
Um a um ela vai enterrando os pés na areia macia daquela praia deserta que guarda as mais belas recordações...
Até a velha cabana permanece intacta, como se os anos não tivessem passado e o tempo fosse pura ilusão...
Aproxima-se lentamente e por breves segundos tem a sensação que ele está ali sentado no baloiço da varanda como sempre fazia.
Pensa nele...
No sorriso que guardava só para ela...
(nunca o vira sorrir assim para mais ninguém!)Olha para o baloiço, ele tal como ela sentiu o peso do tempo e está partido.
Assim como o seu coração!...
Senta-se no degrau da cabana e fecha os olhos...
Imagina-o ali, com
o seu olhar maroto brincando com no seu corpo de menina.
Até quase que consegue ouvir o som da sua gargalhada quando o mar era mais forte que ela e a derrubava sem dó.
Imagina o toque suave dos seus dedos na sua face, desviando as mechas de cabelo quando estavam mais rebeldes!
Consegue sentir o calor do seu corpo que a aquecia depois de um banho de mar.
Inspira, enche os pulmões de ar na esperança de sentir o seu perfume... o seu cheiro!...
Mas só a essência salgada enche a sua alma...
Abre os olhos e fixa o mar...
Devia odiá-lo por o ter levado tão prematuramente mas não consegue...
Hoje a atracção que sente pelas águas agitadas é forte demais, algo a empurra até elas...
E pela primeira vez desde aquele dia ela deixa-se molhar, a água está morna e envolve-a com tanta doçura que ela tem a certeza que são os braços dele que a apertam, sente-se calma e segura por breves instantes deixa o seu corpo à deriva, boiando... Enquanto olha para o céu onde as primeiras estrelas começam a brilhar, repara no brilho especial de uma delas...
As lágrimas que brotam dos seus olhos misturam-se com a água salgada  numa comunhão perfeita...
Agora ela sabe que ele está bem!...
A estrela brilha agora com mais intensidade e vê nela o brilho cintilante dos olhos dele...
Um dia...
Ela promete!!!
"Trago aqui, o nosso filho!"
Quem sabe agora ela vai ter coragem suficiente para lhe contar a história deles!
E poder finalmente dizer-lhe que ele é fruto de um sublime amor de verão e filho da mais linda e brilhante estrela do universo!...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Desde que mudou de casa as noites parecem-lhe mais longas que o habitual.
Dá voltas e voltas na cama e o sono não chega, já experimentou de tudo, desde beber leite morno a ler até adormecer... Ler até funciona, mas nem chega a dormir uma hora. E hoje está mais inquieta que o normal, levanta-se vai à cozinha buscar um copo de leite e senta-se no sofá com o computador no colo, lê os mail's, navega sem qualquer tipo de intuíto, é mesmo só para ocupar o tempo.
Resolve abrir uma página de uma sala de chat, nunca o fez e como tal teve alguma dificuldade em conseguir entrar, a intenção é falar com alguém do estrangeiro imagina ela que ás quatro da manhã só irá encontrar pessoas online da Austrália ou dos EUA... Mas não!
Estão três pessoas e nenhuma delas é estrangeira, fica quieta não mete conversa com ninguém mas não passa despercebida, alguém lhe diz bom dia.
Ela sorri... Bom dia??? Pois... quatro da manhã é efectivamente bom dia.
Responde boa noite, e começam a conversar.
Falam sobre tudo, profissão, clima, política, até falam do Papa e de filhos que não têm, a conversa é boa, ele parece-lhe uma pessoa inteligente e gentil, o que faz caír por terra o clichê de que salas de chat são salas de engate.
Ela não procura isso, e espera que ele não vá por aí... E não foi.
Reparou que já passava das cinco e meia e precisava preparar-se para trabalhar, despediu-se com a promessa de voltar.
Tomou um duche rapido, vestiu-se e saíu de casa, ainda a esperava quase uma hora de percurso e não queria apanhar fila na ponte.
Mas o maldito elevador resolveu trocar-lhe as voltas e não descia, ficou mais de cinco minutos parado no piso superior, já estava a ficar irritada quando ele começa a descer, abre a porta e depara-se com um jovem todo sorridente a olhar para ela, tive um contratempo com o meu cão disse desculpando-se.
Se não fosses tão bonito respondia-te à letra, pensou ela, mas hoje até estava bem disposta.
As conversas no chat com o desconhecido tornaram-se uma rotina que ela fazia questão de não quebrar, as madrugadas tinham um outro sabor.
Ele sempre a respeitara, e ela sentia-se bem com a companhia dele.
Entretanto fez amizade com o vizinho de cima, o cão um dia fugiu ela encontrou-o na entrada e foi leva-lo a casa, foi convidada a tomar um café, e a partir daí já eram assíduos em ambas as casas. Ele tinha 28 anos e era solteiro, tinha chegado há pouco tempo do Porto para ocupar um cargo na sede da empresa em Lisboa, ela tinha 35 e tinha saído de um relacionamento de vários anos, a diferença de idades era notória mas a amizade era verdadeira.
Passaram-se mais de seis meses...
Enquanto a amizade com o vizinho crescia, a atracção pelo desconhecido do chat ía ficando incontornável e já nenhum dos dois o escondia.
Para não haver complicações para ambos, escolheram encontrar-se em zona neutra num centro comercial em frente a uma loja bastante conhecida.
Ela chegou antes da hora marcada queria estar mais calma quando ele chegasse.
Ele estava sentado no banco do corredor à espera que a sua vizinha fosse embora, não queria ter de explicar o que o levara ali.
Ela mantinha-se encostada ao parapeito do piso mesmo em frente à loja.
Ele olhava para o relógio com inquietação, ela não iria aparecer... E a sua vizinha que não saía do mesmo sitio, raios, pensou ele.
Agarrou no telefone, ela tinha-lhe pedido só para a contactar em último caso, ele achava que este era o momento, afinal ela estava atrasada mais de meia hora. O telefone tocou na mala, demorou a encontra-lo, era ele...
-Estou...
-Olá...
-Não vens? Perguntou ele. Estou sentado num banco em frente ao local combinado, no outro lado do corredor
-E eu estou no local combinado, disse ela enquanto se virava para olhar para o outro lado.
Olharam-se incrédulos durante alguns segundos ainda com o telefone ligado... até que o susto deu lugar a gargalhadas... muitas gargalhadas.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Depois de tantos anos ela ainda acorda, com a sensação de que ele está ali ao meu lado!
Por breves segundos procura-o no espaço vazio e frio!...
O quarto ainda te o cheiro dele... Ou então ela imagina o aroma entranhado no seu corpo!
Ela já não sabe mais nada...
Levanta-se sem pressa, na casa de banho a escova de dentes dele ainda permanece no copo como se esperasse o seu regresso, ela já perdeu a conta a quantas vezes lhe pegou para a jogar no lixo, mas voltou a colocá-la no sitio.
Na sala retirou todas as fotos era muito angustiante vê-lo a sorrir a toda hora e porque no quarto ao lado dormia alguém que não a deixava esquecê-lo.
Os mesmos olhos cinzentos olhavam-na todos os dias.
As perguntas há muito se esgotaram, por falta de respostas...
Ele sabe que tem pai! Porque todos os meninos na escola têm!
Só que o dele foi embora sem ao menos saber que ele estava para nascer...
"Ele não te julga" pensava ela e eu não te culpo. Juro!
Afinal ele não sabe... e continua sem saber que existe algures... um menino com vontade de conhecer o pai!
Não é por egoísmo ou vontade de o castigar... ela simplesmente não sabe onde ele está!
Nunca soube...
Foi como um pesadelo...
E sem que nada o fizesse prever ele chegou a casa um dia, fez as malas e disse-lhe:
"Vou embora! "
"Amo-te mas ainda não tenho idade para estar preso a uma relação quero viajar, conhecer o mundo amadurecer..." deu-lhe um beijo e partiu dizendo: "Um dia quem sabe eu volto"
Ela ficou inerte, sem fala sentou-se no sofá para não caír, a voz não saía, as palavras morreram na garganta... Queria gritar que estava esperando um filho, mas ficou muda...
Perdeu a conta aos dias que ficava acordada até tarde, esperando que ele voltasse, tentou ligar-lhe, mas o número estava desactivado.
Qualquer barulho estranho, ela pensava que poderia ser ele... mas eram apenas ilusões!
Ele nunca mais voltou. Afinal não a amava o suficiente.
Com o tempo ela habituou-se a fazer tudo sozinha!
Os passeios à tarde na praia nas quentes tardes de Verão, as idas ao cinema, o entrar em todas as lojas e não comprar nada, montar a árvore de Natal, enfim...
Agora não!
Agora ela tem alguém que faz tudo isso com ela, um ser pequenino mas que é a sua razão de viver! E é só dela!!!
As pegadas na areia, agora são marcadas a pares... O Natal é vivido a dois, os sorrisos voltaram à sala vazia dele...
Enquanto lava os dentes ela imagina se ele voltasse, pensa que não quer pensar nisso, espera mesmo que ele nunca o faça, ela não saberia o que dizer ao filho.
Nem estava preparada para o receber...
Ela tem esperança de um dia acordar e não lançar mais os braços à sua procura...
Limpa o rosto, e volta para a sala, mas a meio caminho torna a voltar atrás, pega na escova de dentes azul e sem hesitar manda-a para o lixo.
Pronto, pensa ela:
"Já nada resta que me faça lembrar de ti..."
Apenas os mesmos olhos cinzentos... mas esses são lindos!
Um dia... quem sabe... ela vai conseguir esquecê-lo de verdade, hoje foi só um teste camuflado de coragem.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sentada na esplanada, ela tinha perdido a noção do tempo, seu olhar vagueava perdido entre os barcos que passavam no Tejo e as pessoas que se aglomeravam na rua ao fim da tarde!
A capital já não lhe parecia tão atractiva como quando há 2 anos trocou a sua aldeia e o controle da casa paterna pela misteriosa e apelativa Lisboa.
Sentia saudades do rio, dos amigos e do pai…
Daí que antes de voltar para o minúsculo apartamento que dividia com uma colega, ela sentava-se naquela esplanada junto ao rio, não era o mesmo é certo, mas ajudava a matar saudades…
Ele não conseguiu mesa para se sentar, encostou-se à parede e bebia sem vontade uma cerveja mais amarga que o normal, qualquer coisa servia de pretexto para não voltar cedo para casa, aguardava-o mais uma discussão, pois eram assim desde há meses todos os regressos a casa. O que ele julgara ser o amor da sua vida, tornou-se o seu pior pesadelo.
Mesmo assim respeitava aquele casamento embora ela não acreditasse.
Reparou na rapariga sentada na esplanada, estava só e notava-se alguma tristeza naquele olhar perdido…
Era morena e muito bonita, sentiu uma vontade enorme de meter conversa,  a falta de mesa para sentar-se foi o pretexto para se aproximar…
Passado o susto inicial, ela acedeu a que ele se sentasse.
Ela ficou em silêncio, ele já não se lembrava de como era meter conversa com uma mulher, mas acabou por quebrar o gelo falando da aragem fresca no fim de tarde de Primavera, ela sorriu e começaram a conversar.
Falaram de trivialidades como o tempo, viagens, países que ela nunca visitou e que só conhecia pela internet, etc.
Após alguns minutos sentiram uma empatia um pelo outro e acabaram por falar da própria vida, ela comentou as saudades da aldeia, dos amigos e até das desavenças com o pai que tanto amava, ele contou-lhe da vida de casado, dos lindos dias românticos até ao pesadelo actual, falou dos filhos que desejava ter e que a mulher menosprezava.
Falou dos ciúmes doentios que ditariam um dia o fim de um casamento que ele teimava em manter, falou-lhe do amor que morria a cada dia…
Calada, bebia cada palavra, cada gesto - Ele é um homem tão lindo, pensava ela enquanto bebia o café já gelado, tão meigo e tão maltratado…
O dia findava, o Sol deixava um rasto vermelho sobre rio… Ele apressou-se a despedir-se, perguntou se ela sempre aparecia por ali… Acenou com a cabeça num gesto de afirmação: Todas as tardes!
Quem sabe voltaremos a falar, comentou ele, ela acenou que sim, e despediram-se com um beijo na face.
Durante semanas ela voltou à mesma esplanada, bebia o seu café e esperava horas…
Durante semanas ele mudou o percurso para não passar perto do rio e não cair em tentação.
Um dia ele achou que devia tentar…
Nesse dia ela desistiu de esperar...