2ª parte
Andava feita tonta pela casa, aquele telefonema tirarar-lhe o sono, foi à cozinha beber água e com o copo na mão abriu a porta do quarto ao lado, o seu filho dormia profundamente. Ainda bem pensou ela, assim não teria que explicar o que durante quinze anos sempre evitou, pelo menos por agora. Embora já fosse um adolescente, Sofia não sabia como reagiria o seu filho quando soubesse que o pai dela a colocara na rua quando ela tinha 17 anos e grávida dele. Para ele Sofia não tinha pais, e Maddy era a sua avó postiça, a pessoa que acolhera sua mãe quando ela chegou a N.Y. Para ele não havia pai, nunca o conhecera e nunca fazia perguntas, o filho confiara nas suas palavras que o pai morrera antes de ele nascer, e agora Sofia sentia-se mal por não ter contado a verdade.
Sentou-se perto do filho e não conseguiu conter as lágrimas, todas as vezes que olhava para ele via o João... No sorriso, no cabelo negro desalinhado, no franzir da testa quando algo não corria bem, mas principalmente nos olhos, aqueles olhos rasos de água quando ela se despediu e disse que não sabia se voltava, ele implorou para que ficasse, mas Sofia não podia, nem sequer podia dizer-lhe que levava com ela o filho de ambos, foi a condição imposta pelo pai para lhe dar dinheiro para a viagem e a morada de um amigo em N.Y. Ela aceitou e ainda hoje se arrepende, só ficou na casa dos amigos paternos um mês, depois conheceu Matty uma senhora bondosa que frequentava o dinner onde ela trabalhava em part-time.
Matty vivia sozinha na outra ponta da cidade e depois de muitas conversas, um dia convidou-a para morar com ela (Matty era a única pessoa a saber da sua história). Sofia não pensou duas vezes e nesse dia cortou o cordão umbilical que a ligava à familia, a partir daquele dia nunca mais deu notícias, começava para ela uma nova etapa.
E ela já estava habituada a dividir a sua vida em etapas.
Beijou a testa do filho e saíu...
A sua mãe estava muito doente, esta frase não lhe saía da cabeça e deixava Sofia num dilema mortal.
Ou fingia que não sabia de nada, ou voltava para enfrentar todos os fantasmas e pior... o seu pai.
Sentou-se no sofá, deitou a cabeça para trás chorou e adormeceu...
{continua..}