Dizem que escrever é uma forma de Auto amor.

Mas eu acho que escrever nada mais é do que emprestar a própria atenção a si mesma.

É o olhar para dentro, e ver o que temos de mais íntimo e criativo dentro de nós.

Já ouvi por aí dizer que “escrever poupa-nos idas ao psiquiatra”.

Assim sendo…

Pouparei decerto idas ao psiquiatra. E espero com isso levar alegria e amor a todos vocês.

quarta-feira, 27 de março de 2013

2ª parte

Andava feita tonta pela casa, aquele telefonema tirarar-lhe o sono, foi à cozinha beber água e com o copo na mão abriu a porta do quarto ao lado, o seu filho dormia profundamente. Ainda bem pensou ela, assim não teria que explicar o que durante quinze anos sempre evitou, pelo menos por agora. Embora já fosse um adolescente, Sofia não sabia como reagiria o seu filho quando soubesse que o pai dela a colocara na rua quando ela tinha 17 anos e grávida dele. Para ele Sofia não tinha pais, e Maddy era a sua avó postiça, a pessoa que acolhera sua mãe quando ela chegou a N.Y. Para ele não havia pai, nunca o conhecera e nunca fazia perguntas, o filho confiara nas suas palavras que o pai morrera antes de ele nascer, e agora Sofia sentia-se mal por não ter contado a verdade.
Sentou-se perto do filho e não conseguiu conter as lágrimas, todas as vezes que olhava para ele via o João... No sorriso, no cabelo negro desalinhado, no franzir da testa quando algo não corria bem, mas principalmente nos olhos, aqueles olhos rasos de água quando ela se despediu e disse que não sabia se voltava, ele implorou para que ficasse, mas Sofia não podia, nem sequer podia dizer-lhe que levava com ela o filho de ambos, foi a condição imposta pelo pai para lhe dar dinheiro para a viagem e a morada de um amigo em N.Y. Ela aceitou e ainda hoje se arrepende, só ficou na casa dos amigos paternos um mês, depois conheceu Matty uma senhora bondosa que frequentava o dinner onde ela trabalhava em part-time.
Matty vivia sozinha na outra ponta da cidade e depois de muitas conversas, um dia convidou-a para morar com ela (Matty era a única pessoa a saber da sua história). Sofia não pensou duas vezes e nesse dia cortou o cordão umbilical que a ligava à familia, a partir daquele dia nunca mais deu notícias, começava para ela uma nova etapa.
E ela já estava habituada a dividir a sua vida em etapas.
Beijou a testa do filho e saíu...
A sua mãe estava muito doente, esta frase não lhe saía da cabeça e deixava Sofia num dilema mortal.
Ou fingia que não sabia de nada, ou voltava para enfrentar todos os fantasmas e pior... o seu pai.
Sentou-se  no sofá, deitou a cabeça para trás chorou e adormeceu...

{continua..}

terça-feira, 26 de março de 2013

1ª Parte

Acordou com o toque estridente do telefone, olhou para o relógio que marcava 3:15 da madrugada, quem teria a ousadia de lhe ligar a esta hora, resmungando lançou o braço e pegou no auscultador:
-Hello…
Do outro lado uma voz familiar e muito querida disse a meia voz:
-Desculpa, sei que aí é madrugada, mas não ficaria bem comigo própria se não ligasse.
-Sofia a tua mãe foi hospitalizada, está muito mal.
Ao ouvir as palavras da amiga, Sofia congelou… nem sabe quanto tempo ficou em silêncio, se foram minutos ou apenas alguns segundos. Do outro lado a amiga continuava:
-Que vais fazer? Vens? É a tua mãe…
Toda ela tremia sentou-se na beira da cama sem saber o que responder. Agradeceu à única amiga que mantinha em Portugal disse que iria pensar e desligou.
Já tinham passado 15 anos desde a última vez que vira a mãe e agora o passado tinha voltado para a atormentar.
Ela sempre amara aquela mãe tão meiga e amorosa.
Mas a submissão que dedicava ao seu pai sempre fora motivo de discussão, Sofia não tolerava o pai, era um homem austero, frio e de pouca conversa.
A infância foi passada nas margens do Douro onde o pai tinha vinhas a perder de vista, a sua única companhia era o João filho do caseiro, nem o facto de ser três anos mais velho impediu esta amizade. Ele era seu amigo, talvez o único que não a gozava pelos cabelos avermelhados que tinha.
Mas os anos passaram, Sofia tornou-se uma menina/mulher e o pai proibiu aquela amizade. O João era o filho do caseiro, não era alguém do nosso meio. Ela não entendia que meio o pai falava, o João sempre estivera ali para ela, e agora era mais que amigo, era alguém por quem ela suspirava de noite quando estava sozinha no quarto, era sempre ele que invadia os seus sonhos e era com ele que ela se imaginava um dia entrar na igreja.
Quis o destino que nada disso acontecesse, e um dia com apenas 17 anos Sofia confessou à mãe que estava grávida do João, viu a mãe ficar pálida e as lágrimas escorriam pela face enrugada mas não pronunciou qualquer palavra, Sofia sabia que as palavras sairiam da boca do seu pai e não seriam nada bonitas, mas isso não a incomodava, aprendera desde cedo a fazer-lhe frente e a nunca chorar na sua presença.
E com a noite veio o seu maior pesadelo, o seu pai…

(continua...)

segunda-feira, 25 de março de 2013




Ele tinha uma rotina diária que a irritava profundamente, abrir a persiana mal acordava, ela já tinha perdido a conta ao número de vezes que lhe pedia para não o fazer, mas ele pura e simplesmente ignorava.
Com aquele gesto diário ele insinuava que a opinião dela valia zero.
Com os olhos semi cerrados olhava-o a movimentar-se no quarto. Houve momentos em que aquela imagem permanecia com ela durante todo o dia, e a hora de chegar a casa era uma alegria.
Agora já não. Ela tenta sempre atrasar a hora de voltar, seja com uma ida ao cabeleireiro, seja com reuniões fora de horas ou mesmo uma visita a uma amiga (inventada)que ele não conhece e que precisa de ajuda.
Mas essas horas são passadas à beira rio. Ali tarda o regresso, atrasa discussões e esquece da vida.
Já o amou demais... Por ele discutiu com os pais, abandonou a aldeia onde nasceu, deixou a escola e os amigos  e encerrou uma parte da sua história. Ir viver para a capital sempre tinha sido o seu sonho de menina. Mas Lisboa embora fosse uma cidade grande tornou-se sufocante, e ela sentia saudades...
Ele mudou... Mas ela também mudara...
A menina que chegou a Lisboa já não existe mais, disso ela tem a certeza. Do que ela não tem a certeza é se o deixou de amar, ou se é só uma fase. As novas amigas dizem que é normal acontecer, que ele tem uma vida ocupada mas que a adora.
Só que para ele já é tarde demais, ela tem tudo planeado. Fingiu dormir quando ele chegou perto para lhe dar um beijo na testa. Houve alturas que aquele beijo a incendiava e ela procurava sempre mais,  ele sorrindo dava-lhe todos os que ela pedia. Agora finge dormir... tudo mudou.
Mal ouviu a porta do prédio fechar agarrou na mala e começou a enchê-la de roupa, não levaria mais que o que trouxera, os vestidos, sapatos e casacos que ele lhe tinha comprado ficavam no armário. Nunca tinha sido feliz com eles, sempre se sentiu um troféu e isso incomodava-a.
Pegou numa folha e escreveu:
"Por favor não me procures, preciso voltar a sonhar. Não te culpes, quando o amor morre a culpa não é de ninguém. Sê feliz."
Pegou na mala e no casaco e saíu. A estação dos comboios seria o próximo destino, depois a aldeia onde foi feliz.
Ele tentou ligar-lhe durante todo o dia, ela não atendeu. Não sabia porquê, mas sentia um aperto no peito e uma vontade enorme de largar tudo e ir para casa, mal a reunião terminou pegou no carro e lançou-se na estrada como nunca o tinha feito. Mal abriu a porta pressentiu que algo estava errado, as chaves no cinzeiro denunciavam que ela estaría em casa, mas a escuridão tinha um peso que ele não conhecia.
Chamou-a... e nada!
Ficou em pânico, correu todas as divisões mas só quando entrou no quarto é que viu o bilhete em cima da cama, leu-o...tornou a ler... e chorou como uma criança. Ele tinha descuidado da mulher que amava e agora perdera-a para sempre. Chorou até que o cansaço o venceu.
Ela acordou quando o comboio anunciou a chegada à aldeia, sorriu... pela primeira vez em muitos meses sentia-se em paz, agora tinha a certeza que já não o amava...





Dia 25 de Março de 2013 nasce um novo blogue



Aqui neste espaço nascerão histórias contadas quase sempre na terceira pessoa.
Não será sobre mim, nem sobre vocês. Serão histórias de todos nós.
Espero que em algum momento alguns de vós se identifiquem com alguma delas.
Por aqui lançar-se-ão letras e sentimentos ao vento, na esperança que formem palavras e frases com algum sentido.
Neste blogue não encontrarão nada de mim, mas sim um pouco de todos nós.


Bem Vindos